quinta-feira, 19 de março de 2009

A PEDAGOGIA INTERÉTNICA

Autor: Walter Passos
Desde implementada a lei 10.639, e posterior reformulação na lei 11.645, universidades, escolas e movimentos sociais buscam alternativas e novas práticas pedagógicas para sua implementação. Dirimam respostas de melhor obter sucesso na elaboração de material didático, como dizem, contemple os diversos falares brasileiros.Entretanto, não se deve omitir que a história da pedagogia e suas práticas nunca contemplaram os africanos no Brasil. Na elaboração dos diversos materiais, os quais vêm a meu conhecimento, noto a falta de concepções afrocentradas. Não nego, contudo, as contribuições e propostas para a formação de uma educação crítica realizada por educadoras e educadores discordantes da educação privilegiada aos valores eurocêntricos.

Mister ressaltar que desde a década de 80 do século passado além de mim outros educadores e educadoras na Bahia voltaram as suas preocupações para um ensino direcionado a África, necessário a formação do nosso povo, a saber: Ana Célia, Valdina Pinto, Arany Santana, Jorge Conceição, Manoel Almeida e entre outros.Entre os poucos evento e palestras, foi ministrado um curso no CEAO (Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia) em 1986 que ampliou a visão dos conhecimentos acerca do continente africano, sendo um dos professores, ministrando a matéria geografia da África, Jorge Conceição, nome que não deve ser esquecido na história da militância preta no Brasil quando trabalharmos os estudos africanos e propostas alimentares necessários ao reencontro da ancestralidade.

Há um desconhecimento ou omissão da história recente do Movimento Negro Brasileiro acerca de diversas conquistas das décadas de 80 e 90 do século XX, especialmente no que concerne a propostas educacionais, decisórias na transformação do agir da sociedade brasileira e resultou em um movimento negro mais consistente e aguerrido. Hoje as propostas educacionais são a continuidade de discussões e trabalhos feitos por mulheres e homens pretos que enfrentaram a academia de valores europeus afirmando que a educação era excludente e racista, entre esses nomes se destacam o de Manoel de Almeida Cruz e de Ana Célia Silva, a qual na minha concepção, é uma das maiores intelectuais que marcou e marca a história da educação nesse país.
Na resistência de elaboração de propostas educacionais a contribuição de um amigo já falecido que ousou discutir uma nova fórmula pedagógica, deve ser sempre relembrada: Manoel de Almeida Cruz. Publicou em 1989, ALTERNATIVAS PARA COMBATER O RACISMO SEGUNDO A PEDAGOGIA INTERÉTNICA.Manoel elaborou um projeto de pedagogia que deve ser discutido e lembrado por educadores e militantes pretos mais jovens, uma proposta revolucionária para a época e nos traz ainda hoje reflexões, apesar de falhar em não ter uma dinâmica afrocentrada, foi um marco feito há 19 anos.

Por Walter Passos.
Teólogo, Historiador

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