terça-feira, 17 de março de 2009

O PROJETO EDUCACIONAL DE RUI BARBOSA I I

Parte II
Rui Barbosa destacou, em vários momentos dos pareceres sobre educação, que no século XIX, a instrução popular tornara-se uma necessidade imperiosa. Muitos intelectuais, representando os mais diferentes países, acreditavam que através dos sistemas nacionais de ensino seriam alcançados melhoramentos na sociedade. A educação estava sendo posta como uma necessidade social da qual o Brasil não poderia esquivar-se.

A escola a ser difundida deveria estar voltada para a vida, esta deveria estar carregada de conteúdos científicos, formando o trabalhador e o cidadão. A partir de tais reflexões, concluiu que ante a indolência do progresso escolar era notória a inferioridade do ensino nacional em relação aos outros países. Ignorava-se, no Brasil, que a educação e a disseminação da ciência poderiam trazer muitos benefícios.

O ensino das ciências foi muito enfatizado no século XIX. As conquistas obtidas no processo produtivo, a partir do desenvolvimento tecnológico, que permitiu a automação do trabalho, revelavam que a ciência tornava-se palavra de ordem da modernização. Com as ciências, novos inventos se concretizavam a cada dia, possibilitando a substituição do trabalhador pela máquina, a aceleração do processo produtivo e o aumento da taxa de lucro. Acreditava-se que a difusão do conteúdo científico era muito importante no desenvolvimento do país e ela deveria estar a cargo do Estado. Para Rui Barbosa o povo americano compreendeu que "a cultura da alma humana" era o primeiro elemento da vida de um Estado, pois, na instrução estava a base estável da prosperidade pública. Através dela poder-se-ia preparar o homem para o trabalho, seja agrícola ou industrial. Nessa preparação o conteúdo escolar ocupava um papel importante; no cerne dele as ciências assumiam papel fundamental. Este mostrava-se necessário para o trabalho numa sociedade industrializada.

A evidência da relação que se fazia entre educação e preparação para o trabalho pode ser demonstrada também pela ênfase dada ao ensino de desenho. Nos pareceres sobre o ensino primário e secundário foi evidenciada a imperiosa exigência desse ensino. O ensino de desenho não era o de ornamentação, nem tinha como objetivo transformar todos os alunos em artistas, mas exercitar o olho e a mão para que eles pudessem ver com exatidão e reproduzir coisas de seu interesse ou que pudessem ser aplicadas, principalmente, nas indústrias. Assim, o ensino proposto não se destinava ao cultivo da pintura, da escultura ou estatuária, mas explorava as possibilidades da adaptação da arte ao desenho industrial através do estudo do desenho, adequando a arte ao trabalho mecânico e fabril. Dessa forma, contribuiria para o progresso do país, pois era necessário criar a indústria nacional.

Através da reforma educacional, afirmava, nos pareceres sobre educação, ser possível desencadear transformações na sociedade através da inteligência nacional; ela poderia formar o indivíduo apto para o trabalho livre, num país baseado no trabalho escravo em vias de extinção. Rui Barbosa lutou veementemente para a abolição da escravidão, defendeu a emancipação dos escravos sexagenários, na Câmara dos deputados, em 1884. A educação poderia desenvolver habilidades necessárias ao trabalho, desde que seus conteúdos fossem úteis e de caráter prático. O conteúdo científico assumia um papel primordial, pois podia ser utilizado na vida prática e no trabalho. O ensino de química, por exemplo, podia ser de muita utilidade para a lavadeira, o tintureiro, o fabricante de tecidos, na fábrica e na agricultura.

Rui Barbosa se utilizou da voz de Tavares Bastos, invocando-o do além túmulo, para que influenciasse os parlamentares que se mostravam surdos à necessidade da grande reforma: "Uma lei da divina harmonia que preside o mundo, prende as grandes questões sociais; emancipar e instruir é a forma dupla do mesmo pensamento político. Que haveis de oferecer a esses entes degradados, que vão surgir da senzala para a liberdade? o batismo da instrução. Que reservareis para suster as forças produtoras, esmorecida pela emancipação? o ensino, esse agente invisível, que, centuplicando a energia do braço humano, é sem duvida a mais poderosa das máquinas de trabalho."(BASTOS Apud. BARBOSA, 1947, p. 179) Tavares Bastos, no livro "A Província", advertia o país pela indiferença habitual que se demonstrava em relação à educação. O Brasil nada oferecia, pois seu sistema de governo não se assentava sobre a capacidade eleitoral. Ao não investir-se no alargamento da instrução pública, apenas perpetuava-se o embrutecimento da população brasileira que estava sendo engrossada pelos imigrantes pobres. A indústria agrícola nada poderia melhorar, pois estava impregnada pela rotina secular e não poderia utilizar-se de melhoramentos na produção por desconhecer-lhe o processo.

A educação, para Rui Barbosa, poderia contribuir para promover a transformação do país em diversas instâncias. Ele propõe a educação técnica e científica com vista à preparação do escravo liberto e do trabalhador nacional para o trabalho agrícola e, principalmente, industrial. Preocupava-se também com a preparação do homem para exercer a cidadania, participar como cidadão esclarecido da vida política do país, país este democrático. O sufrágio universal estava diretamente ligado à necessidade de instrução.

Maria Cristina Gomes Machado - UEM
O PROJETO DE RUI BARBOSA:O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA
MODERNIZAÇÃO DA SOCIEDADE

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