terça-feira, 5 de maio de 2009

FRANCISCO DA CONCEIÇÃO MENEZES

Francisco da Conceição Menezes
“Dr. Cazuza”


Autor: Cid Teixeira

Nas décadas de 40 e 50, todos os dias úteis entre as dezessete e as dezenove horas, a secretaria do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia funcionava, além do seu expediente normal, como uma espécie de “club” no mais ortodoxo sentido inglês da palavra.

Profissionais de diversas áreas tinham, ali, o seu encontro diário. Mesmo aqueles mais opostos, e até adversários na vida pública, tinham, naquela sala, o terreno comum do endimento.

Conquanto o congraçamento fosse geral haviam, evidentemente, grupos mais ligados, por força de lembranças comuns. Espécies de “câmaras” do “plenário” maior.Neste último caso, estavam os antigos revisores da Imprensa Oficial do Estado. A vida os levara por diversos caminhos: Aloysio de Carvalho Filho era professor de Direito Penal; Jayme Junqueira Ayres, de direito civil; Francisco da Conceição Menezes, (Secretário do próprio Instituto Histórico) era professor de História; Tadeu Santos, jornalista como Arnaldo Alves. Eram os mais assíduos desse grupo. Eventualmente, apareciam Teodomiro Batista e Salvador Borges dos Reis.

A conversa da secretaria do Instituto Histórico resolvia todos os problemas do mundo. Da guerra na Europa ao dia-a-dia da cidade ou do trabalho de cada qual.O grupo que vinha da Imprensa Oficial não se poupava de lembrar os fatos que viveram em comum. Na verdade, todos se consideravam, de alguma sorte, vinculados pelo denominador como que era a lembrança do “Dr. Cazuza”, referência entre o respeito e o carinho com que identificavam a figura de José de Aguiar Costa Pinto, “diretor da casa” e que lá empregara a todos.

Francisco da Conceição Menezes, de origem muito modesta, começara na infância a aprender o ofício de funileiro. Daí, passou a aprendiz de tipógrafo e foi nesta condição que se meteu, ainda menor em uma greve com movimentos de rua reprimidos pela polícia, tendo, num desses choques, o comprometimento de um dos olhos, o que lhe deu, pela vida afora, um jeito muito peculiar de fitar as pessoas.

Foi, pois, já com algum “conhecimento de caixa” que passou a trabalhar na oficina da Imprensa Oficial. E, daí, já fazendo o curso de professor primário na Escola Normal, passou à revisão. Coube-lhe trabalhar na elaboração gráfica da edição anotada por Braz do Amaral do livro de Inácio Acioli e, também, da edição das “Notícias Soteropolitanas e Brasílicas” de Luiz dos Santos Vilhena. E, por muitas vezes afirmava ter sido ali, no contato com os textos que revia, a tomada de decisão de fazer do estudo e do ensino da História a sua opção profissional.

Memórias e comentários desfilavam: a continuidade administrativa de José Joaquim Seabra durante o quatriênio Antonio Moniz; a ascensão de Góes Calmon; a escolha de Vital Soares para a vice-presidência da República: os últimos dias da “república velha” com gente pretendendo publicar atos no Diário Oficial à revelia de uma autoridade vacante. Eram os antigos revisores do Diário Oficial que conferiam reminiscências e observações a propósito de uma casa de trabalho que jamais deixou de ser deles.


Salvador, agosto de 1985

Cid Teixeira

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