THALES GÓIS DE AZEVEDO
Autora:Maria Arlinda Moscoso
Médico e professor, como costumava identificar-se, a trajetória profissional de Thales Góis de Azevedo foi demarcada de êxito e competência. Caminho glorioso, em que o espírito humanista e a preocupação dominante com o social foram revelados, de forma plural, no clínico, no antropólogo, historiador, romancista, articulista do jornal A TARDE por mais de seis décadas, nutricionistas e tantas outras atividades nas quais deixou registrado o seu talento versátil e prodigioso. Nele são inseparáveis o didata e o pesquisador, um complementando o outro.
Nasceu em Salvador, Bahia, a 26 de agosto de 1904, na Rua do Hospício, hoje Rua Democrata - e faleceu em 05 de agosto de 1995. Filho mais velho do farmacêutico Olimpio Pinto de Azevedo e da Profa. Laurinda Góis de Azevedo, teve quatro irmãos. Casou-se com Mariá Freitas David, diplomada em piano.
Thales de Azevedo estudou no Colégio dos Jesuítas – o Antonio Vieira - dos 10 aos 15 anos de idade. Fez o Curso de Medicina na Faculdade de Medicina da Bahia onde se formou, recebendo distinção pela tese inaugural FIBROMYOMAS DO ÚTERO, aprovada em dezembro de 1927.
O MÉDICO
Na Faculdade de Medicina da Bahia foi interno da Cadeira de Clínica Ginecológica do Prof. Adeodato de Souza, na enfermaria do Hospital Santa Isabel da Santa Casa da Misericórdia da Bahia e do ambulatório ginecológico do mesmo hospital.
Sua primeira missão após a formatura, foi participar da comissão organizada para combater surto de peste bubônica no Município de Itambé – 1928, no sudoeste da Bahia.
A seguir, passou a clinicar no Município de Castro Alves. Em 1931 fez Curso de Aperfeiçoamento do Aparelho Digestivo e Tuberculose na Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), com o Prof. Clementino Fraga.
De 1933 a 1934 estagiou na Clínica de Dermatologia e Sifilografia do Prof. Eduardo Rabello da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil.
Ainda no ano de 1934 foi nomeado médico do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos.
O JORNALISTA
Sua primeira incursão na área jornalística ocorreu ainda na fase de estudante, colaborando em um pequeno jornal diocesano, em Ilhéus, na seção de Estudo do Círculo Católico de Estudos da Mocidade Acadêmica do Dr. Cabral.
Por algum tempo foi revisor do Diário Oficial da Bahia - 1925, sendo logo depois promovido de revisor, para noticiarista.
Em 1933 começou a trabalhar no jornal A TARDE, sendo encorajado a escrever para o mesmo pelo Dr. Ernesto Simões Filho, a quem o talento de Thales de Azevedo não passou despercebido. Iniciou sua colaboração sem regularidade, mas acabou sendo articulista de produção semanal, durante o período de 60 anos, até a semana de sua morte (1995).
Em 1975, na reorganização do jornal, o Dr. Ernesto Simões Filho o incluiu entre os seus seis colaboradores permanentes.
PROFESSOR E PESQUISADOR
Das inúmeras e excelentes contribuições oferecidas pelo Professor Thales de Azevedo à vida cultural do nosso país, sobreleva-se, sem dúvida, a do professor pesquisador. A ele se deve o conceito de uma nova metodologia, em que o conhecimento vem reforçado pela didática da pesquisa social, oferecendo sólida base ao estudo.
Numa apreciação imparcial e coerente sobre o trabalho desenvolvido pelo Prof. Thales, Gilberto Freyre assim se expressou:
“Nele, o didata e o pesquisador vêm sendo inseparáveis: Um enriquecendo o outro. Seus discípulos se tornam altamente favorecidos: em conhecimentos teóricos de Antropologia Cultural e em técnica de análise e de pesquisa.”
Trabalhando com o Prof. Anísio Teixeira, então Secretário de Educação da Bahia, Thales de Azevedo ficou engajado no Programa de Pesquisas Sociais Estado da Bahia – Colômbia Universaty (1950/195l).
Logo a seguir, na qualidade de coordenador do Programa, acompanhou seus desdobramentos em estágios de treinamento e orientação de estudantes americanos na Bahia, que se estendeu por mais de duas décadas.
Thales de Azevedo desempenhou papel decisivo no apoio a projetos de pesquisa e na concessão de bolsas de estudo a pesquisadores, como Presidente e Secretário Geral da Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia (1958 / 1968).
O ANTROPÓLOGO
O estudo da Antropologia Cultural no Brasil encontrou no Mestre Thales de Azevedo um dos seus melhores cultores. Seus trabalhos são, na abalizada palavra de Gilberto Freyre, “de um saber sério e de uma elevada consciência de cientista que é também humanista.”
Antropólogo e Professor Universitário, Thales de Azevedo foi reconhecido como “um dos poucos antropólogos brasileiros que emprestou aliança entre Antropologia e Historia.”
De 1942 a 1943, trabalhou na criação da Escola de Serviço Social da Bahia.
A convite do Prof. Isaias Alves, passou a integrar o Corpo Docente da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, onde se manteve de 1943 a 1969.
Foi em 1943 que recebeu convite de Dr. Osvaldo Valente, então Diretor do Arquivo Municipal de Salvador, para participar dos trabalhos da série Evolução Histórica da Cidade do Salvador, comemorativa do IV Centenário da Cidade (1549/1949).
Aceitando o convite, o Professor Thales de Azevedo apresentou trabalho sob o titulo: O Povoamento da Cidade do Salvador.
Outros de seus trabalhos foram premiados, mas Povoamento foi por três vezes que mereceu três honrosos prêmios: A primeira, foi com o grande prêmio criado pela Companhia de Seguros Aliança da Bahia em comemoração ao IV Centenário da Cidade do Salvador, para a melhor obra sobre a Bahia. Concorreram ao Prêmio Literário Aliança da Bahia mais onze trabalhos, dentre os quais, quatro foram selecionados, “que sobrepujaram sem a menor dúvida, aos demais”:
História da Literatura Bahiana e História da Fundação da Bahia, de Pedro Calmon; A Idade do Ouro da Bahia, de J.F.Almeida Prado e, Povoamento que, no Parecer da Comissão de Julgamento (05/12/1950), “Se não supera os outros (três) em méritos literários, tem sobre eles a vantagem de representar um estudo mais profundo e minucioso em torno de assunto de maior relevância para o conhecimento da formação baiana”.
O segundo prêmio foi conferido pelo Governo do Estado: O Prêmio Caminhoá criado para distinguir “a obra mais destacada do período”.
Em seu parecer, a comissão julgadora afirma:
“O livro do Dr. Thales de Azevedo que tão merecidamente concorre ao Prêmio Caminhoá constitui, diga-se de pronto e sem rebocos, um bom livro. Bom livro por várias razões: pelo plano elevado com que foi traçado e executado, pelos três capítulos magníficos em que está desdobrado, pela erudição que ressuma de suas citações, pela lógica que transnuda os seus conceitos, pela honestidade que surde de suas conclusões, pelo volume de pesquisas beneditinas que valorizam suas notas, bom livro enfim, pelo estudo sociológico e antropológico profundo, erudito, espraiado pelos seus três capítulos, ponto alto do trabalho e razão de seu grande mérito” (Perecer da Comissão, abril de 1951).
Finalmente Povoamento da Cidade do Salvador recebeu, no mesmo ano, o Prêmio Cultural de Interpretação do Brasil e Portugal Larragoiti Junior, da Academia Brasileira de Letras.
Além da edição original, promovida pela Prefeitura de Salvador, 1949, Povoamento teve mais duas reedições: Cia. Editora Nacional, Rio de Janeiro, 1955, edição proposta por Anísio Teixeira e Itapoá, Salvador, 1969, edição proposta por Luiz Henrique Dias Tavares. Na mesma linha o autor escreveria, anos mais tarde em colaboração com E.V. Lins, uma das mais importantes monografias brasileiras sobre a história de uma instituição financeira – História do Banco da Bahia – 1958. Escreveu muitos outros textos que aprofundam questões históricas, sobretudo a respeito da colonização italiana no Rio Grande do Sul, a história eclesiástica e as relações Estado-Igreja no Brasil.
Na década de 50 integra-se à rede de pesquisadores sobre as relações inter-étnica no Brasil.
No seu trabalho intitulado Raças Humanas Superiores e Raças Inferiores, evidencia seu próprio antagonismo ao preconceito. Idéia que seria reforçada mais tarde em: Povoamento e em Civilização e Mestiçagem. Todavia, o marco decisivo no círculo de estudos de relações sociais, é encontrado em trabalho seu para a UNESCO, em 1955, de repercussão internacional.
Concluímos com as autorizadas palavras de Gilberto Freyre:
“O Brasil, deve ao Professor Thales e Azevedo como a outros cientistas sócais de hoje, contribuições valiosas para o esclarecimento de aspectos peculiares a uma sociedade e uma cultura que precisa ser estudada e interpretada considerando-se essas peculiaridades e não simplesmente aplicando-se a situações brasileiras teorias, em todos, de outras origens”.
Trabalho elaborado pela Acadêmica, advogada, escritora, Membro da Academia de
Cultura da Bahia e Conselheira do CEPA (Círculo de Estudo, Pensamento e Ação),
Maria Arlinda Moscoso, por ocasião de sua posse como Membro da Academia de
Cultura da Bahia, em homenagem a seu patrono o Dr. Thales Góis de Azevedo -Salvador, 01/10/2005
Cultura da Bahia e Conselheira do CEPA (Círculo de Estudo, Pensamento e Ação),
Maria Arlinda Moscoso, por ocasião de sua posse como Membro da Academia de
Cultura da Bahia, em homenagem a seu patrono o Dr. Thales Góis de Azevedo -Salvador, 01/10/2005
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